28 de fev. de 2013

Conseqüências sociais da Revolução Industrial


Disciplina: Teoria Geral da administração I
Turma:  ADM 2013 FAMA


1.2.2.          Conseqüências sociais da Revolução Industrial


Os efeitos sociais da Revolução Industrial foram largamente transformadores. Em primeiro lugar, ela provocou uma desagregação do modo de vida das classes mais baixas, que foram submetidas a um modo de trabalho completamente estranho aos seus valores e tradições. Desde indivíduos que possuíam oficinas ou pequenas propriedades agrícolas a mendigos que peregrinavam nas cidades viam-se de repente operando máquinas assustadoras, sob supervisão cerrada de capatazes contratados, durante períodos diários fixos, recebendo ao final do mês uma pequena remuneração.
A resistência dos trabalhadores a um sistema tão diferente de tudo o que haviam conhecido foi, como seria de se esperar, muito grande. Muitos entregavam-se ao alcoolismo ou organizavam movimentos revoltosos. Em 1811 surgiu o movimento ludita, organizado por operários que se rebelavam contra o uso das máquinas, quebrando-as.
Para deter a resistência dos trabalhadores, os capitalistas forçaram a assimilação dos novos costumes: além da supervisão cerrada do trabalho, diversas leis foram promulgadas na época prevendo a punição dos trabalhadores que quebrassem seus contratos ou se mostrassem indisciplinados.
Um dos efeitos mais importantes da Revolução Industrial foi a concentração populacional nos centros urbanos. em 1851 a maior parte da população inglesa vivia em centros urbanos, e quase um terço de toda a população em cidades com mais de 50 mil habitantes. 10
O crescimento acelerado e desordenado transformou cidades como Manchester em amontoados de casas e armazéns, formando extensas fileiras de imóveis que deixavam pouco espaço para o convívio ou o trânsito de pedestres: até a metade do século XIX eram raras as praças públicas, calçadas e espaços abertos. Os sistemas de esgotos e fornecimento de água eram incapazes de acompanhar o crescimento ininterrupto da população; cólera e febre tifóide alastravam-se com facilidade entre os grupos mais pobres.
é possível observar a intensa transformação por que passavam as classes sociais no período. Continuava a existir uma oligarquia aristocrática constituída pelos remanescentes da nobreza feudal e por alguns excepcionalmente ricos; entretanto, a sociedade como um todo sofrera grandes alterações nas suas condições sociais. Havia surgido, de um lado, uma burguesia industrial, a classe de maior poder político, que conduziria o avanço econômico inglês; de outro, a classe mais pobre, um proletariado que vendia a estes capitalistas sua força de trabalho. Empresários envolvidos com o comércio e o sistema financeiro, por sua vez, ganharam importância com a Revolução Industrial, compondo parte das classes mais abastadas.
Ao mesmo tempo, a concentração da população nos centros urbanos criou uma classe média, composta por famílias donas de pequenos negócios e profissionais liberais, como médicos, advogados etc. A classe média constituir-se-ia num grupo de peso político considerável. No campo, a divisão fundamental era entre grandes proprietários de terra, na maior parte se utilizando de técnicas modernas de agricultura; e trabalhadores rurais, cujas condições de trabalho eram precárias.
O processo por que passou a Inglaterra se repetiu de forma semelhante em outros países europeus, como França e Alemanha, no século XIX.



lO. HOBSBAWM, Eric, op. cit., p. 80.


Fonte: Introdução ao estudo da administração
Professora: Aline

O surgimento do sistema fabril


Disciplina: Teoria Geral da administração I
Turma:  ADM 2013 FAMA


1.2.2.                        O surgimento do sistema fabril



O crescimento ainda mais acentuado da demanda veio a agravar os conflitos inerentes ao putting-out system. Os capitalistas viam-se obrigados a fornecer cada vez mais produtos ao mercado, mas eram incapazes de tornar os artesãos mais produtivos. Além de tudo, esbarravam num problema cultural: os artesãos possuíam um modo de vida e um sistema de valores incompatíveis com a lógica capitalista. Por muitas vezes os capitalistas tentaram aumentar a produtividade desses artesãos pagando-lhes mais por peça produzida. O resul­ tado era inverso: eles passavam a produzir menos,·pois preferiam dedicar-se ao lazer do que sacrificá-lo trabalhando. Para essas pessoas, bastava um nível de renda que lhes garantisse a sobrevivência.
Para resolver essa contradição, era preciso que o capitalista encontrasse formas de intervir mais diretamente no processo produtivo. Aos poucos, alguns capitalistas passavam a reunir vários trabalhadores sob o mesmo teto, para que realizassem as tarefas sob sua supervisão. Esse grupo de trabalhadores possuía as origens mais distintas: eram camponeses expulsos do campo, mendigos, soldados dispensados, desempregados em geral.9 As condições de trabalho eram ruins: a maior parte dos operários declarava que aceitaria trabalhar em
outra parte por um salário menor. Mulheres e crianças constituíam boa parte da mão-de-obra dessas  primeiras fábricas.
Mas não era apenas a organização do trabalho que constituía um obstáculo aos capitalistas: as técnicas tradicionais utilizadas pelos artesãos davam pouca margem a aumentos de produtividade. O processo de industrialização necessitaria também de uma revolução tecnológica, que o capital inglês tinha condições de financiar.
Dessa forma, em 1733 John Kay criava aflying shuttle (lançadeira volante), um instrumento que se adaptava aos teares manuais aumentando em várias vezes a capacidade de tecer de um trabalhador. Em 1765, James Hargreaves inventava a spinning jenny, possibilitando que um homem fiasse até oitenta fios simultaneamente. Em 1769 foi a vez de Richard Awkright criar a waterframe, uma máquina de fiar movida a água. Samuel Crompton combinou a water frame e a spinning jenny em uma máquina, a mule, em 1779. Em 1787, Edmond Cartwright criava o tear mecânico. Uma nova fonte de energia também foi desco­ berta: o vapor, que, embora já em 1698 tivesse sido utilizado por Thomas Savery, se tomou viável como fonte energética a partir da invenção da máquina a vapor por James Watt (desenvolvida entre as décadas de 1760 e 1780).
A combinação de uma organização que facilitava a supervisão dos trabalhadores com o desenvolvimento tecnológico criou um sistema que logo se alastraria por quase todos os setores produtivos da época: o sistema fabril. Na fábrica, a produção passou a ser realizada em instalações de propriedade do capitalista, que detinha também as máquinas necessárias para o trabalho. O trabalho mecanizado instituído pelo sistema era monótono e exigia regularidade: os horários tomavam-se fixos, ao mesmo tempo que o trabalho se tomava repetitivo. O ritmo de trabalho tomou-se também muito mais intenso, fazendo com que a dedicação ao lazer dos trabalhadores tivesse de ser reduzida drasticamente. Separavam-se no sistema fabril a concepção da execução do trabalho: os processos eram determinados pelo capitalista, e cabia ao trabalhador simplesmente executá-los.


6.                   MARGLIN, Stephen. "Origens e funções do parcelamento de tarefas", in RAE, 18 (4). Rio de Janeiro, out./dez. 1978, p. 13.
8. Note que o sistema oferecia ao capitalista vantagens que o sistema fabril eliminaria: o fraco vínculo estabelecido entre ele e o produtor possibilitava que os serviços do último fossem dispensados em períodos recessivos e recontratados em épocas de crescimento da demanda, dando grande flexibilidade ao empregador.

Fonte: Introdução ao estudo da administração
Professora: Aline

O surgimento do putting-out system


Disciplina: Teoria Geral da administração I
Turma:  ADM 2013 FAMA


1.2.  A Revolução Industrial


1.2.1                                     O surgimento do putting-out system


A forma mais antiga de organização da produção surgida na Inglaterra e na maior parte dos países europeus foram as oficinas artesanais independentes. Nestas, a produção era realizada por um mestre, quase sempre ajudado por seus aprendizes e por sua própria família. Tratava-se de uma produção essencialmente doméstica, realizada na própria casa do mestre, e destinada a suprir as necessidades da sua aldeia ou comunidade. As ferramentas e a matéria-prima pertenciam a ele, que decidia quanto e quando produzir. As quantidades não variavam muito: eram determinadas por encomendas de um grupo pequeno de pessoas próximas. Além disso, o know-how necessário para realizar o trabalho era todo do mestre, que só compartilhava o seu conhecimento com os aprendizes. Estes apenas após sete anos poderiam se estabelecer por conta própria.
Este sistema de produção, que vigorava nas cidades tanto quanto  no campo, era, por força de suas próprias características, incapaz de suprir uma economia de mercado. Desde o século XIII os aumentos de consumo começavam a obrigar alguns artesãos a vincular a sua atividade a comerciantes que lhes forneciam a matéria-prima e vendiam os produtos acabados em outros mercados.
Ora, com a expansão comercial inglesa, e em especial após a promulgação do primeiro Ato de Navegação por Oliver  Cromwell em 1651,5 a burguesia mercantil inglesa encontrava condições extraordinárias para  a  sua atividade. Para estes comerciantes, interessava conseguir produtos mais baratos e em quantidades maiores do que tradicionalmente produziam as oficinas manufatureiras.
Nas cidades, entretanto, não se configuravam condições para que a classe mercantil  interviesse  no processo  produtivo:  nelas,  os artesãos já  se haviam organizado em guildas que detinham o monopólio do suprimento local, controlando variáveis como preço, qualidade do produto, nível de produção, concorrência e responsabilidade pelo ensino dos aprendizes. Para realizar o seu intuito, ela teria de recorrer aos artesãos rurais, menos organizados e mais baratos. Foi o que ocorreu.
Dessa forma, já no séçµlo XVII boa parte dos artesãos rurais trabalhava de fato para a burguesia mercantil: eram os comerciantes simultaneamente seus fornecedores e clientes, o que deixava o artesão numa posição de extrema dependência com relação ao capitalista. Como relata David S. Landes:6

"Ele [o artesão] estava despreparado para e11Jre11tar as oscilações inerentes a este tipo de nrm11jo. Em tempos difíceis, podiam ficar completamente ocioso, sem ter ninguém a quem vender; e, quando os negócios melhoravam, geralmente tinha de tomar emprestada de seu intermediário a matéria-prima para recomeçar. Uma vez apanhado na roda do endividamento com seu produto final antecipadamente hipotecado pelo credor, o artesão raramente reconquistava sua independência".


Configurava-se assim uma nova forma de organização da produção: o putting-out system, ou sistema de produção domiciliar. Neste sistema, o produtor possuía os meios de produção que na época correspondiam ao tear,à roca etc.-, mas estava subordinado a um capitalista, que lhe fornecia a matéria-prima, comprava o produto final e determinava quanto deveria ser produzido e quanto lhe seria pago pelo seu trabalho. Com o tempo, o capitalista assumiu o papel de coordenador da produção:  os artesãos eram contratados para realizar parcelas do trabalho, corno o tingimento, a fiação, a tecelagem ou o acabamento.
No putting-out system, a produção possuía ainda um caráter doméstico: era realizada pelo artesão e sua fanúlia ou por pessoas próximas na sua própria casa. Ele ajnda tinha a posse das ferramentas necessárias para a produção. Além disso, o conhecimento necessário para a realização do trabalho era todo seu, pois o capitalista não conhecia as técnicas necessárias para produzir os produtos que venderia.
Por outro lado, as decisões acerca do processo produtivo não eram mais tomadas pelo artesão exclusivamente. Cabia ao capitalista, neste novo sistema, determinar a quantidade e a qualidade da matéria-prima a ser utilizada; a quantidade a ser produzida; os prazos para a produção das encomendas feitas; o preço a ser pago pela produção.
Assim, o puttíng-out system tirava do produtor muito do controle que este detinha sobre sua atividade. Apesar disso, o artesão preservava consigo a concepção e a execução do trabalho. O know-how estava ainda em suas mãos. Como relata Stephen Marglin: "A especialização parcelar característica do putting-out system só fez desaparecer um dos aspectos do controle operário sobre a produção: o controle sobre o produto. O controle operário do processo de trabalho ainda se mantinha intacto: o operário era livre de escolher as horas e a intensidade do seu trabalho. Esta liberdade só lhe foi retirada pela fábrica"
Ora, tudo isso fazia do putting-out system, um sistema de produção conflituoso: recebida a matéria-prima, o artesão realizava o trabalho no horário que mais lhe conviesse, usando as técnicas que dominasse melhor e ainda na sua própria casa, livre de qualquer supervisão. O poder do capitalista consistia na possibilidade de pagar pela produção valores muito baixos, de modo que o artesão tivesse de realizar o serviço para não morrer de fome; e na possibilidade de deduzir do pagamento desvios de certo padrão de qualidade, conseguindo produtos com alguma padronização. 8


LANDES, David S. Pro111ele11 desncom:11tndo . Rio de Janeiro: Nova  Fronteira,  1994, p. 


Fonte: Introdução ao estudo da administração
Professora: Aline