28 de fev. de 2013

O surgimento do putting-out system


Disciplina: Teoria Geral da administração I
Turma:  ADM 2013 FAMA


1.2.  A Revolução Industrial


1.2.1                                     O surgimento do putting-out system


A forma mais antiga de organização da produção surgida na Inglaterra e na maior parte dos países europeus foram as oficinas artesanais independentes. Nestas, a produção era realizada por um mestre, quase sempre ajudado por seus aprendizes e por sua própria família. Tratava-se de uma produção essencialmente doméstica, realizada na própria casa do mestre, e destinada a suprir as necessidades da sua aldeia ou comunidade. As ferramentas e a matéria-prima pertenciam a ele, que decidia quanto e quando produzir. As quantidades não variavam muito: eram determinadas por encomendas de um grupo pequeno de pessoas próximas. Além disso, o know-how necessário para realizar o trabalho era todo do mestre, que só compartilhava o seu conhecimento com os aprendizes. Estes apenas após sete anos poderiam se estabelecer por conta própria.
Este sistema de produção, que vigorava nas cidades tanto quanto  no campo, era, por força de suas próprias características, incapaz de suprir uma economia de mercado. Desde o século XIII os aumentos de consumo começavam a obrigar alguns artesãos a vincular a sua atividade a comerciantes que lhes forneciam a matéria-prima e vendiam os produtos acabados em outros mercados.
Ora, com a expansão comercial inglesa, e em especial após a promulgação do primeiro Ato de Navegação por Oliver  Cromwell em 1651,5 a burguesia mercantil inglesa encontrava condições extraordinárias para  a  sua atividade. Para estes comerciantes, interessava conseguir produtos mais baratos e em quantidades maiores do que tradicionalmente produziam as oficinas manufatureiras.
Nas cidades, entretanto, não se configuravam condições para que a classe mercantil  interviesse  no processo  produtivo:  nelas,  os artesãos já  se haviam organizado em guildas que detinham o monopólio do suprimento local, controlando variáveis como preço, qualidade do produto, nível de produção, concorrência e responsabilidade pelo ensino dos aprendizes. Para realizar o seu intuito, ela teria de recorrer aos artesãos rurais, menos organizados e mais baratos. Foi o que ocorreu.
Dessa forma, já no séçµlo XVII boa parte dos artesãos rurais trabalhava de fato para a burguesia mercantil: eram os comerciantes simultaneamente seus fornecedores e clientes, o que deixava o artesão numa posição de extrema dependência com relação ao capitalista. Como relata David S. Landes:6

"Ele [o artesão] estava despreparado para e11Jre11tar as oscilações inerentes a este tipo de nrm11jo. Em tempos difíceis, podiam ficar completamente ocioso, sem ter ninguém a quem vender; e, quando os negócios melhoravam, geralmente tinha de tomar emprestada de seu intermediário a matéria-prima para recomeçar. Uma vez apanhado na roda do endividamento com seu produto final antecipadamente hipotecado pelo credor, o artesão raramente reconquistava sua independência".


Configurava-se assim uma nova forma de organização da produção: o putting-out system, ou sistema de produção domiciliar. Neste sistema, o produtor possuía os meios de produção que na época correspondiam ao tear,à roca etc.-, mas estava subordinado a um capitalista, que lhe fornecia a matéria-prima, comprava o produto final e determinava quanto deveria ser produzido e quanto lhe seria pago pelo seu trabalho. Com o tempo, o capitalista assumiu o papel de coordenador da produção:  os artesãos eram contratados para realizar parcelas do trabalho, corno o tingimento, a fiação, a tecelagem ou o acabamento.
No putting-out system, a produção possuía ainda um caráter doméstico: era realizada pelo artesão e sua fanúlia ou por pessoas próximas na sua própria casa. Ele ajnda tinha a posse das ferramentas necessárias para a produção. Além disso, o conhecimento necessário para a realização do trabalho era todo seu, pois o capitalista não conhecia as técnicas necessárias para produzir os produtos que venderia.
Por outro lado, as decisões acerca do processo produtivo não eram mais tomadas pelo artesão exclusivamente. Cabia ao capitalista, neste novo sistema, determinar a quantidade e a qualidade da matéria-prima a ser utilizada; a quantidade a ser produzida; os prazos para a produção das encomendas feitas; o preço a ser pago pela produção.
Assim, o puttíng-out system tirava do produtor muito do controle que este detinha sobre sua atividade. Apesar disso, o artesão preservava consigo a concepção e a execução do trabalho. O know-how estava ainda em suas mãos. Como relata Stephen Marglin: "A especialização parcelar característica do putting-out system só fez desaparecer um dos aspectos do controle operário sobre a produção: o controle sobre o produto. O controle operário do processo de trabalho ainda se mantinha intacto: o operário era livre de escolher as horas e a intensidade do seu trabalho. Esta liberdade só lhe foi retirada pela fábrica"
Ora, tudo isso fazia do putting-out system, um sistema de produção conflituoso: recebida a matéria-prima, o artesão realizava o trabalho no horário que mais lhe conviesse, usando as técnicas que dominasse melhor e ainda na sua própria casa, livre de qualquer supervisão. O poder do capitalista consistia na possibilidade de pagar pela produção valores muito baixos, de modo que o artesão tivesse de realizar o serviço para não morrer de fome; e na possibilidade de deduzir do pagamento desvios de certo padrão de qualidade, conseguindo produtos com alguma padronização. 8


LANDES, David S. Pro111ele11 desncom:11tndo . Rio de Janeiro: Nova  Fronteira,  1994, p. 


Fonte: Introdução ao estudo da administração
Professora: Aline

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