Disciplina: Teoria Geral da administração I
Turma: ADM 2013 FAMA
1.2. A Revolução Industrial
1.2.1
O surgimento do putting-out
system
A forma
mais antiga de organização da produção surgida na Inglaterra e na maior parte
dos países europeus foram as oficinas artesanais independentes. Nestas, a
produção era realizada por um mestre, quase sempre ajudado por seus aprendizes
e por sua própria família. Tratava-se de uma produção essencialmente doméstica,
realizada na própria casa do mestre, e destinada a suprir as necessidades da
sua aldeia ou comunidade. As ferramentas e a matéria-prima pertenciam a ele,
que decidia quanto e quando produzir. As quantidades não variavam muito: eram
determinadas por encomendas de um grupo pequeno de pessoas próximas. Além disso,
o know-how necessário para realizar o trabalho era todo do mestre, que só
compartilhava o seu conhecimento com os aprendizes. Estes apenas após sete anos
poderiam se estabelecer por conta própria.
Este
sistema de produção, que vigorava nas cidades tanto quanto no campo, era, por força de suas próprias
características, incapaz de suprir uma economia de mercado. Desde o século XIII
os aumentos de consumo começavam a obrigar alguns artesãos a vincular a sua
atividade a comerciantes que lhes forneciam a matéria-prima e vendiam os
produtos acabados em outros mercados.
Ora,
com a expansão comercial inglesa, e em especial após a promulgação do primeiro
Ato de Navegação por Oliver Cromwell em
1651,5 a burguesia mercantil inglesa encontrava condições extraordinárias
para a
sua atividade. Para estes comerciantes, interessava conseguir produtos
mais baratos e em quantidades maiores do que tradicionalmente produziam as
oficinas manufatureiras.
Nas cidades,
entretanto, não se configuravam condições para que a classe mercantil interviesse
no processo produtivo: nelas,
os artesãos já se haviam organizado
em guildas que detinham o monopólio do suprimento local, controlando variáveis
como preço, qualidade do produto, nível de produção, concorrência e responsabilidade
pelo ensino dos aprendizes. Para realizar o seu intuito, ela teria de recorrer
aos artesãos rurais, menos organizados e mais baratos. Foi o que ocorreu.
Dessa forma, já no séçµlo XVII boa parte dos artesãos rurais
trabalhava de fato para a burguesia mercantil: eram os comerciantes
simultaneamente seus fornecedores e clientes, o que deixava o artesão numa
posição de extrema dependência com relação ao capitalista. Como relata David S.
Landes:6
"Ele
[o artesão] estava despreparado para e11Jre11tar as oscilações inerentes a este
tipo de nrm11jo. Em tempos difíceis, podiam ficar completamente ocioso, sem ter
ninguém a quem vender; e, quando os negócios melhoravam, geralmente tinha de
tomar emprestada de seu intermediário a matéria-prima para recomeçar. Uma vez apanhado
na roda do endividamento com seu produto final antecipadamente hipotecado pelo
credor, o artesão raramente reconquistava sua independência".
Configurava-se assim
uma nova forma de organização da produção: o putting-out system, ou sistema de
produção domiciliar. Neste sistema, o produtor possuía os meios de produção que
na época correspondiam ao tear,à roca etc.-, mas estava subordinado a um
capitalista, que lhe fornecia a matéria-prima, comprava o produto final e determinava
quanto deveria ser produzido e quanto lhe seria pago pelo seu trabalho. Com o
tempo, o capitalista assumiu o papel de coordenador da produção: os artesãos eram contratados para realizar
parcelas do trabalho, corno o tingimento, a fiação, a tecelagem ou o
acabamento.
No
putting-out system, a produção possuía ainda um caráter doméstico: era
realizada pelo artesão e sua fanúlia ou por pessoas próximas na sua própria
casa. Ele ajnda tinha a posse das ferramentas necessárias para a produção. Além
disso, o conhecimento necessário para a realização do trabalho era todo seu,
pois o capitalista não conhecia as técnicas necessárias para produzir os
produtos que venderia.
Por
outro lado, as decisões acerca do processo produtivo não eram mais tomadas pelo
artesão exclusivamente. Cabia ao capitalista, neste novo sistema, determinar a
quantidade e a qualidade da matéria-prima a ser utilizada; a quantidade a ser
produzida; os prazos para a produção das encomendas feitas; o preço a ser pago
pela produção.
Assim, o puttíng-out system tirava do produtor muito do
controle que este detinha sobre sua atividade. Apesar disso, o artesão
preservava consigo a concepção e a execução do trabalho. O know-how estava
ainda em suas mãos. Como relata Stephen Marglin: "A especialização
parcelar característica do putting-out system só fez desaparecer um dos
aspectos do controle operário sobre a produção: o controle sobre o produto. O
controle operário do processo de trabalho ainda se mantinha intacto: o operário
era livre de escolher as horas e a intensidade do seu trabalho. Esta liberdade
só lhe foi retirada pela fábrica"
Ora, tudo isso fazia do putting-out system, um sistema de
produção conflituoso: recebida a matéria-prima, o artesão realizava o trabalho
no horário que mais lhe conviesse, usando as técnicas que dominasse melhor e
ainda na sua própria casa, livre de qualquer supervisão. O poder do capitalista
consistia na possibilidade de pagar pela produção valores muito baixos, de modo
que o artesão tivesse de realizar o serviço para não morrer de fome; e na
possibilidade de deduzir do pagamento desvios de certo padrão de qualidade,
conseguindo produtos com alguma padronização. 8
Fonte: Introdução ao estudo da administração
Professora: Aline
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